RESENHA - Filme Death Note


  Um original Netflix e lançado nesse ano, já era de se esperar que um filme baseado em uma história que já tem uma legião de fãs (e eu me incluo), era, para se dizer, no mínimo, arriscado.

Aqueles que esperavam uma readaptação, encurtada, claro, mas pelo menos fiel, do mangá ou anime, provavelmente saiu decepcionado. A única fidelidade mantida é a da premissa: um caderno poderoso que, ao escrever o nome de uma pessoa visualizando o seu rosto causa a sua morte, cai nas mãos de um mero mortal. A partir disso, as semelhanças diminuem – e desaparecem.

Nos primeiros minutos do filme, temos uma ambientação completamente americanizada, quase que como um anúncio: se você esperava Tokyo, é melhor parar de assistir agora. Com o passar do enredo, se quisermos realmente curtir o filme, devemos nos desligar completamente de sua base, pois, afinal, fica cada vez mais incomparável.

Antes de tudo, impossível não comentar a grande diferença dos personagens, quando comparamos as duas obras. De uma forma ou de outra, pode-se dizer que levou a um rumo totalmente diferente nas histórias. Enquanto Light Yagami, do anime, era racional, frio e inescrupuloso, Light Turner, do filme, mostra-se muito mais humano, ele pondera sobre suas ações, hesita em vários momentos, a ponto de o telespectador subestima-lo de suas capacidades, de modo que jamais faria com Yagami. O que, por muito foi incômodo, sabemos que não causaria o mesmo efeito, caso contrário, no final.

Um ponto inegavelmente positivo foi a mudança da personagem Misa, que no anime era hipersexualizada, feita de marionete e sem algum potencial. Com o nome ocidental de “Mia”, a personagem ganha vontades próprias, uma frieza racional e se torna uma verdadeira parceira de Light, tendo também uma maior ligação emocional com ele.

Quanto ao detetive L, foi atentada a lealdade mais desuas características de sua personalidade do que de sua aparência. Chega a ser um alívio perceber que manteram suas peculiaridades, como a maneira de se sentar, os movimentos ágeis, poucas palavras e o vício por doce.

Agora, quanto a história, é necessária avalia-la individualmente. Não se pode querer que 37 episódios virem, com fidelidade, 1h40. Não se pode querer que sejam excluídas as características estadunidenses, uma vez que lá foi produzido o filme. Mantendo a mente aberta, as críticas a serem feitas são bem mais amenas.

A mudança no roteiro não foi nada sutil. Claro que as subtramas seriam excluídas, porém desde as cenas mais simples, como o encontro do protagonista com o shinigami (Deus da Morte, na cultura japonesa) Ryuk, quanto toda complexidade do enredo original, não foram mantidas. Não são apenas contextos diferentes, são histórias completamente diferentes.

Não diria que não houve um bom planejamento do roteiro nesse filme, que, na verdade, satisfaz, sim. Mas que simplesmente nunca foi intencionado uma verdadeira similaridade. Por isso, o choque de críticas.

Deve-se admitir que, sim, houve características hollywoodianas já passadas e clichês, que poderiam ser evitadas, como o beijo na chuva (e a chuva constante), perseguições na cidade, quedas em câmera lenta (com direito a luzes no fundo de cenário deslumbrante), entre outras. A sensação que dá é de quebra de harmonia com o contexto do filme.

Apesar disso, o final não deixa de ser surpreendente. Por toda longa-metragem, reviramos os olhos e subestimamos o protagonista, que ao tomar uma decisão, apenas revelada em seus últimos minutos, passamos a enxergar tudo por outro ângulo, no mínimo, um pouco impressionados.

Em conclusão, recomendo o filme para quem tem capacidade de discernir uma obra de sua adaptação. Para aqueles que já assistiram o anime e são grandes fãs, eu apostaria mais no longa-metragem, também de nome “Death Note”, lançado em 2006, produzido no Japão. Para aqueles que não assistiram, talvez as maiores críticas estejam mais relacionadas com alguns momentos toscos do que com o enredo em si.

Evito, sempre ao máximo, criar expectativas, portanto, não fiquei decepcionada, apenas... surpreendida. Em todo o caso, recomendo a todos que assistam (ou leiam) a história original. Vale muito mais a pena.


Paula Cruz, 2º Etim Design de Interiores

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