EXTRA - Idealização



Ilustração por: Mylena Kasai, 2º Etim Administração

           Acredito que posso dizer que todos nós, de uma forma ou de outra, idealizamos algo ou alguém ao longo de nossas vidas. Alguns de nós o fazemos diversas vezes, enquanto outros mal o fazem. 

            A idealização trata-se de exagerar positivamente as virtudes presentes em algo ou alguém, até que o mesmo chegue a perfeição. Creio que o exemplo mais comum de idealização seja de pessoas, mas é possível idealizar praticamente qualquer coisa. Você pode idealizar um time de futebol, uma corrente filosófica, um estilo de música, uma determinada parte do espectro político, e por aí vai.

            Ela ocorre da seguinte maneira: nos deparamos com o objeto que futuramente será idealizado, e reconhecemos os atributos nele presentes. Após isso, nos apaixonamos. E idealizamos. E então, acabamos nos tornando psicologicamente submissos ao nosso objeto de idealização. 

            A partir de então, a idealização marca o início da autodegradação da sua dignidade e do seu amor próprio. Você passa a se enxergar de modo inferior ao objeto idealizado. Em sua visão, ele é perfeito: não possui defeitos, é composto exclusivamente de qualidades positivas, as quais são todas exercidas com exímio. Qualquer um ou qualquer coisa perto do seu objeto de adoração torna-se insignificante. Exclusivamente e especialmente se essa “coisa” for você. 

            A idealização é tóxica e possessiva. Ela te domina, comanda você. Rege suas ações e seus pensamentos. Ela te corrói mentalmente - e até mesmo fisicamente, em casos mais graves - até que você se torne um mero subproduto de sua idealização. Aquilo que você vê com superioridade é o que acaba te destruindo. 

            Se você está passando por esse processo psicológico agora, te desejo muita força e, principalmente, boa sorte. Não se sabe quanto tempo isso pode durar, mas definitivamente é algo que passa. Apenas recomendo que você não lute contra a aceitação: saiba que o que você sente não representa a realidade. Se você pensa que o que você está sentindo é amor, sinto-lhe dizer que não, não é. Se o que você “ama” é perfeito, não é amor. Se fosse amor, você admiraria as virtudes desse ente, enquanto aprenderia a conviver com suas falhas. Ou seja, saberia que os defeitos existem, que estão ali e você consegue enxergá-los. Se você não os enxerga, não é porque eles não existem, e sim porque você está idealizando. 

            Creio que a maior busca de nossas vidas é a procura por algo que possamos viver por. Sei como é tentador acreditar que o objeto idealizado é o que estamos buscando, mas ele não é. Ele é apenas uma parte de sua vida, na verdade, menos do que isso: ele representa apenas um período de tempo no qual exerceu alguma importância. Ele não saciará permanentemente a sua sede pela razão de viver, e dependendo do caso pode até mesmo te atrapalhar enquanto você procura pela mesma.                   

            Não seja vassalo de nada. Especialmente se for de alguém. Não há nada idealizado que possa te preencher por completo sem te destruir enquanto o faz. Não há nada tão superior assim para fazer com que você se sinta um lixo. Você não precisa disso, pois isso não te trará felicidade. Valorize a si mesmo. Complete-se. Só assim poderá encontrar harmonia dentro de si. 

            O pior tipo de prisioneiro é aquele que sustenta o próprio cativeiro. 


Por Cacal​ ​Pinheiro,​ ​2º​ ​Etim​ ​Administração

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